Xylella fastidiosa já infectou 11 concelhos do Norte do país
No período de um ano a perigosa bactéria já se expandiu por um território com quase 70 mil hectares de extensão e forçou a destruição 11.130 plantas das diferentes espécies.
Ninguém consegue travar a galopante proliferação da
mais perigosa praga. A mais recente avaliação nacional alimenta os piores receios de que a doença se dissemine por olivais, vinhas e amendoais e dezenas de outras espécies de plantas e árvores de norte a sul do país.
Para fazer o ponto de situação na zona demarcada para controlar a propagação da
Xylella fastidiosa, realizou-se no passado dia 6 de Fevereiro, nas instalações da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAP Norte), no Porto, um ano depois de ter sido detectado o foco original em Viola Nova de Gaia.
A conclusão final do debate expressa a preocupação das entidades envolvidas
no combate à proliferação da bactéria: apesar das acções e medidas de protecção fitossanitária na zona demarcada (ZD) de
Xylella fastidiosa, os planos de contingência aplicados para controlar a doença “não foram capazes de impedir o surgimento de novos surtos”.
A propagação da bactéria estendeu-se
para além de Vila Nova de Gaia, onde foi detectado o foco original no dia 3 de Janeiro de 2019, e alastrou-se aos concelhos de Castelo de Paiva, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Ovar, Paredes, Porto, Santa Maria da Feira e Valongo, e cerca de 60 freguesias, conforme informação fornecida pela Direcção Regional de Agricultura e Pesca do Norte.
Nas 60 zonas infectadas foram recolhidas ao longo de 2019 “3535 amostras e destruídas 11.130 plantas de diferentes espécies hospedeiras da bactéria”, avança o documento final da reunião de 6 de Fevereiro. A bactéria pode estar associada a 58 espécies/géneros de plantas, entre elas, a amendoeira, a cerejeira, a ameixeira, a oliveira, o sobreiro, a figueira, bem como plantas ornamentais e da flora espontânea.
O trabalho desenvolvido por oito equipas do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas percorreu cerca de 50.000 quilómetros, na prospecção da
Xylella fastidiosa, no decorrer do ano 2019. Mas o esforço despendido não afastou a “terrível ameaça” que a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) define como “um dos principais problemas fitossanitários emergentes das últimas décadas”.
Numa lista publicada pelo Centro Comum de Investigação da Comissão e pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, em Outubro de 2019, sobre 20 pragas que exigem combate prioritário, a
Xylella fastidiosa é apontada como a que tem “maior impacto nas culturas agrícolas”. As duas instituições europeias admitem que a propagação da doença no seio dos países da UE possa vir a causar perdas anuais de produção de 5,5 mil milhões de euros e afectar “70% do valor de produção das oliveiras com mais de 30 anos e 35% das mais jovens, num cenário de propagação da bactéria por toda a União Europeia”.
É, contudo, em Itália, onde a
Xylella surgiu pela primeira vez no continente europeu, que os efeitos dramáticos da doença continuam a fazer-se sentir. Os primeiros casos de infecção na Europa foram detectados em 2013 na região italiana da Apúlia. E também aqui as medidas de contenção não travaram a doença, que continua a disseminar-se a uma velocidade de dois quilómetros por mês e corre o risco de infectar todo o Sul da Itália. O jornal da Associação de Agricultores Italianos,
Il Punto Coldiretti, destaca o “massacre de oliveiras que mudou a face e a paisagem da região” que produz “mais da metade do azeite virgem extra nacional e regista hoje um colapso de 65% da colheita”. Depois de penalizar a Apúlia, a bactéria corre o risco de infectar “todo o Sul da Itália” enfatiza órgão informativo da ATI, lembrando que a praga já “devastou milhares de famílias nos campos e nas fábricas, com a expansão da
Xylella, que já atingiu 21 milhões de árvores” com a infestação a progredir.
Para amenizar o impacto que a presença da
Xylella está a ter na dimensão ambiental, económico e social, o Governo italiano já disponibilizou 300 milhões de euros para “restaurar a herança produtiva destruída pela bactéria amaldiçoada e que provocou uma paisagem fantasmagórica”, vincou o presidente da organização Itália Olívicola, Fabrizio Pini, durante a reunião que manteve com o ministro italiano da Agricultura, no início de Fevereiro.
Em Portugal vive-se na expectativa que o novo olival possa resistir à
Xylella. É sobre o impacto deste tipo de culturas na biodiversidade que se pronuncia Pedro Horta, membro do Movimento Alentejo Vivo (MAV). “As áreas contínuas, em grande densidade, de uma só cultura, criam condições ideais para a geração e proliferação de inimigos culturais e retiram grande parte do habitat aos organismos auxiliares que os poderiam regular. A criação de resistências por parte dos inimigos culturais pode gerar um ciclo vicioso com consequências potencialmente catastróficas”, adverte o ambientalista.
https://www.publico.pt/2020/02/23/e...a-ja-infectou-11-concelhos-norte-pais-1905045