Na zona do vale do Zêzere entre a Gardunha e a Covilhã pareceu-me que a árvore dominante seria o Quercus robur, que depois continua a aparecer encosta acima na Covilhã e na Gardunha o Quercus robur parece-me dominante com o Quercus pyrenaica. Malta da Quercus disse-me há muitos anos que a azinheira ocupava territórios do carvalho ou do sobreiro no Interior Norte e Centro quando os solos eram sujeitos a erosão extrema. Depois como o clima mudou nos últimos milénios ficaram bosques relíquia de azinheira em território que seria actualmente do carvalho se não fosse a acção humana. Toda a Serra da Estrela parece-me um Gerês em potência no que diz respeito a biodiversidade arbórea mas com uma maior acção do Homem que nos trouxe até ao cenário desolador actual.
PS: se eu mandasse pelo menos 25% da Estrela seria para renaturalizar com floresta nativa. Mas não temos população nem elites políticas dispostas a isto. Também introduziria portagens no acesso à Torre (o dinheiro seria para investir no Parque em renaturalização e apoio às populações e não sairia um cêntimo do parque para funcionalismo, passadiços, teleféricos e outras eco-paroladas).
O vale do Zêzere, entre a Covilhã e a Gardunha, é, na atualidade, sobretudo Quercus pyrenaica, com núcleos, mais ou menos localizados, de sobreiro(que podem, de facto, ser, ou ter sido, potenciados por ação humana); claro que também existe Quercus robur mas, na Cova da Beira, pelo que observo na atualidade, tendem a ser exemplares isolados.
Ao contrário, assim que se começa a subir em altitude até aos 900/1000m, na encosta da Covilhã, o Quercus robur começa a ganhar preponderância e, ao palmilhar vários troços dessa encosta, vejo, com alguma surpresa, muitos mais rebentos de Q. robur do que de Q. pyrenaica. Na encosta, o sobreiro é pouco frequente e nunca sobe acima dos 800m e a azinheira aparece, precisamente, a maior altitude, em solos onde, provavelmente, devido à erosão, o Quercus pyrenaica não consegue prosperar.
Na encosta do Fundão da Serra da Gardunha, a expansão contínua de pomares de cereja, tem limitado os carvalhais que seriam, provavelmente, mais de Q. robur do que de Q. pyrenaica, à semelhança do que se observa na encosta da Covilhã.
Estas conclusões, visíveis a qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos (e de interesse) pelo assunto, contrariam aquela ideia estanque de que a Serra da Estrela tem apenas 3 andares: o basal, até aos 800m, dominado em termos arbóreos pelo sobreiro e pela azinheira; o intermédio, dominado pelo carvalho-negral e o superior, onde as árvores cederiam a posição dominante a arbustos, como o zimbro.
A verdade é que a Estrela, como a generalidade das serras do Centro e do Norte de Portugal, incluindo algumas serras do Sul, como São Mamede e mesmo Monchique, são uma deliciosa mistura de elementes atlânticos e do Mediterrâneo, a que acrescem efeitos da continentalidade (sobretudo em Trás-os-Montes), o que torna as nossas serras apaixonantes pelo convívio entre espécies aparentemente tão antagónicas.
Depois temos o lado negativo da influência humana, como os incêndios e o que de pior se lhes segue, nomeadamente o imparável avanço das espécies invasoras, como as mimosas e outras espécies de acácias. E nisso, o Gerês e a Estrela também padecem do mesmo mal...Este é um dos motivos pelos quais gosto cada vez mais das paisagens transmontanas, por, ao contrário do Minho e das Beiras, ainda terem uma presença muito escassa das "amigas australianas".