Árvores e Florestas de Portugal

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No contexto urbanistico, vale muita coisa, mas claro que é sobretudo importante a resistência à poluição, a estética e a rusticidade.
Nesse aspecto, existem muitos países mais avançados do que nós, se bem que já temos alguns bons exemplos em Portugal, como o jardim da Praça de Itália (miradouro da Capela de São Jerónimo incluído) que foi projetado por Gonçalo Ribeiro Telles.
 
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No contexto urbanistico, vale muita coisa, mas claro que é sobretudo importante a adaptabilidade: a resistência à poluição, a estética e a rusticidade.
Nesse aspecto, existem muitos países mais avançados do que nós, se bem que já temos alguns bons exemplos em Portugal, como o jardim da Praça de Itália (miradouro da Capelinha incluído) que foi projetado por Gonçalo Ribeiro Telles.
Sim, esse jardim é realmente um bom exemplo de adaptabilidade e de jardim de flora principalmente autóctone e adequada ao clima. Há zambujeiros, alfarrobeiras, ciprestes-italianos, pinheiros-mansos, azinheiras também vi algumas exóticas como piteiras ou ciprestes-do-buçaco (de origem mexicana). Eu até acrescentava uns pinheiros-do-alepo e umas tamareiras datileiras para manter essa paisagem mediterrânica e até para recordar uma paisagem perdida desde a época muçulmana.

O tipo de vegetação abaixo adapta-se muito bem ao clima da metade sul do país:
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São todas espécies típicas de climas mediterrânicos, algumas até de climas semi-áridos ou áridos, que têm alto valor estético e que se adaptam muito bem ao clima, não precisam de regas no verão. Basicamente, são as espécies ornamentais "de base" de toda cidade do Mediterrâneo, desde Huelva até a Grécia. Muitas delas são autóctones (oliveiras, pinheiros-mansos, alfarrobeiras, azinheiras, sobreiros, etc.), outras como a tamareira ou a laranjeira são exóticas mas tem uma longa presença no nosso território pelo menos desde a época muçulmana (ou até mesmo anterior no caso da tamareira) e finalmente, há árvores exóticas que foram introduzidas pelo seu valor estético e/ou a sua fácil adaptação ao nosso clima (palmeiras-de-leque, ciprestes-do-buçaco, pinheiros-do-alepo, pinheiros-das-canárias, etc.)
 
Só que em vez de esse tipo de vegetação encontramos cada vez mais jardins com árvores de climas temperados de folha caduca (plátanos, carvalhos, castanheiras-da-índia, bordos, gingkos, etc.) ou então árvore rupícolas que plantam longe de pontos de água (choupos, freixos, ulmeiros, salgueiros, etc.) São espécies que precisam de rega nos meses quentes e que perdem as folhas no inverno.

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Este tipo de vegetação não segue a tradição ornamental de cidades costeiras mediterrânicas mas sim de países do Norte e do centro da Europa (quase todas essas árvores são plantadas em parques e ruas aqui na Suíça). Precisam de água o ano todo e de invernos frios. Como podem ver, muitas não aguentam o calor seco do verão.
 
O clima de Lisboa é bastante húmido e ameno no inverno, sobretudo no que diz respeito às temperaturas mínimas, o que lhe permite ser um bom "spot" para a aclimatação de espécies subtropicais e tropicais. Os portugueses trouxeram plantas oriundas dos quatro continentes desde a era dos descobrimentos e botânicos do mundo inteiro interessaram-se pelas colecções de espécies subtropicais e tropicais que encontraram em Lisboa um clima adequado ao seu crescimento. Jacarandás, tipuanas, árvores de borracha, grevíleas, casuarianas, figueiras-benjamim, figueiras-da-austrália, strelitzias, palmeiras-quêntias, palmeiras-jerivás, eritrinas, etc. Todas essas espécies conseguem crescer em Lisboa e também são muito comuns noutros pontos do Mediterrâneo. Têm um altíssimo valor estético e atrativo, no entanto, a grande maioria precisa de rega no verão.

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Infelizmente, ultimamente tem-se apostado mais em espécies de folha caduca no nosso território, o que acaba por "arrefecer" a nossa percepção do clima e da paisagem, daí o comentário da "era do gelo".
 
Vais me desculpar @Wolfmad , mas gosto muito da alameda de tílias na zona do Campo Grande :D. Quando estudava na Faculdade de Ciências fazia muitas vezes aquele trajecto a pé, sobretudo naqueles dias ensolarados de Outono, para admirar aqueles tons amarelos. Tirava sempre fotos.

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Uma tamareira aí do lado direito.

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Já agora, que árvore é esta em primeiro plano na alameda dos vulcões de água no PdN?

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Para concluir, queria comparar a nossa "tradição" paisagística com a da nossa vizinha Espanha. Escolhi duas cidades que partilham semelhanças geográficas, históricas e climáticas com Lisboa.

Sevilha:

Trata-se da antiga cidade rival de Lisboa durante a Era dos descobrimentos. Localizada à beira do rio Guadalquivir, Sevilha tem temperaturas máximas de inverno parecidas com a de Lisboa, mas temperaturas mínimas mais baixas nos meses mais frios e temperaturas bem mais quentes no verão. As precipitações são bem menores comparado com Lisboa, sendo claramente mais seca, sobretudo no verão. O coberto vegetal é uma combinação harmoniosa de árvores mediterrânicas autóctones ou de longa tradição (oliveiras, pinheiros, laranjeiras, ciprestes, tamareiras) com a vegetação rupícola típica do Guadalquivir e exóticas subtropicais (jacarandás, tipuanas, palmeiras-de-leque, tamareira-das-canárias). Aqui podem ver imagens do coberto vegetal da cidade:

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Como podem ver, a grande diferença com Lisboa está no uso sistemático de palmeiras (até parece que o escaravelho nunca chegou lá) e na ausência de árvores de folha caduca de climas temperados (exceto os plátanos e rupícolas).

Outra cidade parecida com Lisboa em termos de clima e geografia seria Cádiz.

Cádiz fica na desembocadura do rio Guadalete, à semelhança com Lisboa e o Tejo, na costa ocidental. Também está sob influência do oceano Atlântico, embora de forma mais leve do que Lisboa, e tem temperaturas muito semelhantes às de Lisboa. As únicas diferenças significativas residem nas temperaturas mínimas nos meses mais quentes (estas mais frescas em Lisboa) e na precipitação, esta última mais próxima da do Algarve. De novo, deparamo-nos com o mesmo cenário de harmonia paisagística entre árvores mediterrânicas autóctones ou de longa tradição (tamareiras, laranjeiras, pinheiros, palmeiras-das-vassouras, etc.) e árvores subtropicais e tropicais (diferentes palmeiras, espécies de ficus, jacarandás, árvores-de-fogo, etc.). Neste caso, há uma ausência quase total de árvores de climas temperados de folha caduca, incluindo rupícolas. A única árvore que escapa a esta regra é o plátano. Além disso, como podem constatar, as palmeiras continuam lá, ao contrário de Lisboa.

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Esta tradição paisagística repete-se ao longo de todo o Mediterrâneo, no entanto, parece atingir o seu limite em Portugal.

Podemos afirmar que existem principalmente duas diferenças entre a tradição ornamental espanhola (e a dos países de clima mediterrânico) e a portuguesa:

- Ausência de palmeiras (tamareiras) em Portugal: as autoridades não souberam gerir a praga do escaravelho e, por isso, o nosso país perdeu quase a totalidade das suas tamareiras (principalmente as das Canárias) e não as substituiram. Além disso, parece que os portugueses não deram realmente continuidade ao cultivo da tamareira datileira desde a época muçulmana, ao contrário do outro lado do Guadiana.

- Abundância e uso crescente de árvores de folha caduca ou de climas mais frios como ornamental.

Essas diferenças acabam por dar um aspeto pouco estético e harmonioso às nossas cidades do sul e isso nos dá a impressão que o nosso clima é bem mais frio do que realmente é. O resultado é o seguinte: uma mistura pouco harmoniosa mas bem portuguesa de árvores tropicais, mediterrânicas, alpinas e setentrionais como o atesta a foto abaixo.
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Vais me desculpar @Wolfmad , mas gosto muito da alameda de tílias na zona do Campo Grande :D. Quando estudava na Faculdade de Ciências fazia muitas vezes aquele trajecto a pé, sobretudo naqueles dias ensolarados de Outono, para admirar aqueles tons amarelos. Tirava sempre fotos.

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Uma tamareira aí do lado direito.

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Já agora, que árvore é esta em primeiro plano na alameda dos vulcões de água no PdN?

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Eu também gosto! Mas gosto de as ver cá na Suíça ;) não numa cidade quase subtropical.
Trata-se de uma erythrina caffra, originária da África do Sul e que dá umas flores vermelhas lindíssimas no início da primavera. Partilho aqui duas fotos minhas:
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A mais pequena ao lado é a erythrina crista-galli, natural da América do Sul e que também flores vistosas.

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Na entrada do Hospital Egas Moniz, lembro-me que existia pelo menos uma tamareira de grandes dimensões.
Junto à praia da Parede e na Avenida da Republica em Carcavelos, ainda existem algumas.
São realmente muito belas, ainda que menos exuberantes que as palmeiras das Canárias, na minha opinião.
Mas o contraste visual e a rusticidade justificam plenamente o seu uso, além dos saborosos frutos, claro.

Eu acho que a nível de tropicais, Lisboa eleva a parada muito alto: não devem haver muitos sítios com papaeiras e mangueiras, a crescer e a frutificar ao ar livre, à mesma latitude (sensivelmente).
Talvez os Açores...
Até poderá haver algum sítio mais, mas não deverá ser comum.
De todas as formas, tais fruteiras exigem água, um local virado a Sul, bem drenado e protegido do vento de Norte.
Tendencionalmente, o mesmo se passa com outras árvores tropicais, que cresçam em zonas mais frias do que as de origem.

Em Portugal, o mais próximo que temos de Sevilha, é o Vale do Guadiana (lembro-me que Sanlucar de Guadiana, a 500 metros ao lado de Alcoutim, tinha até uma média anual ligeiramente mais alta que Sevilha, para o mesmo período de tempo (mas a série que vi, não chegava aos 30 anos)).
O regime de temperaturas era muito parecido, sendo a diferença maior, a precipitação (era e é mais seco que Sevilha).
A influência Csa de Koppen-geiger (verões quentes e secos, somados a invernos relativamente amenos e húmidos), é grosso modo, muito semelhante à Termomediterranica de Rivas-Martinez e em Portugal Continental deverá começar a Sul do sistema Sintra/Montejunto/Estrela, com a exceção do Vale do Douro, que chega perfeitamente a níveis termomediterrânicos em vários locais.


Interessante a comparação feita pelo Wolfmad.
Realmente dá para refletir sobre erros feitos no passado e algo necessita de mudar, a nível de planeamento de espaços verdes, em zonas urbanas portuguesas.
Penso que em vários sítios pode-se utilizar flora nativa, desde que seja rústica resistente e esteticamente agradável, mas também deverá sobrar muito espaço para exóticas, desde que sirvam o propósito de forma igualmente eficaz.
 
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Na entrada do Hospital Egas Moniz, lembro-me que existia pelo menos uma tamareira de grandes dimensões.
Junto à praia da Parede e na Avenida da Republica em Carcavelos, também existem algumas.
São realmente muito belas, ainda que menos exuberantes que as palmeiras das Canárias, na minha opinião.
Mas o contraste visual, justifica plenamente o seu uso, além dos saborosos frutos, claro.

Eu acho que a nível de tropicais, Lisboa eleva a parada muito alto: não devem haver muitos sítios com papaeiras e mangueiras, a crescer e a frutificar ao ar livre, à mesma latitude (sensivelmente).
Talvez os Açores...
Até poderá haver algum sítio mais, mas não deverá ser comum.
De todas as formas, tais fruteiras exigem água, um local virado a Sul, bem drenado e protegido do vento de Norte.
Tendencionalmente, o mesmo se passa com outras árvores tropicais, que cresçam em zonas mais frias do que as de origem.

Em Portugal, o mais próximo que temos de Sevilha, é o Vale do Guadiana (lembro-me que Sanlucar de Guadiana, a 500 metros ao lado de Alcoutim, tinha até uma média anual ligeiramente mais alta que Sevilha, para o mesmo período de tempo (mas a série que vi, não chegava aos 30 anos)).
O regime de temperaturas era muito parecido, sendo a diferença maior, a precipitação (era e é mais seco que Sevilha).
A influência Csa de Koppen-geiger (verões quentes e secos, somados a invernos relativamente amenos e húmidos), é grosso modo, muito semelhante à Termomediterranica de Rivas-Martinez e em Portugal Continental deverá começar a Sul do sistema Sintra/Montejunto/Estrela, com a exceção do Vale do Douro, que chega perfeitamente a níveis termomediterrânicos em vários locais.


Interessante a comparação feita pelo Wolfmad.
Realmente dá para refletir sobre erros feitos no passado e algo necessita de mudar, a nível de planeamento de espaços verdes, em zonas urbanas portuguesas.
Penso que em vários sítios pode-se utilizar flora nativa, desde que seja rústica resistente e esteticamente agradável, mas também deverá sobrar muito espaço para exóticas, desde que sirvam o propósito de forma igualmente eficaz.
Sim, havia um conjunto de tamareiras-das-canárias (phoenix canariensis) com 5 tamareiras (phoenix dactylifera) centenárias. Em 2010, as tamareiras-das-canárias foram afetadas pelo escaravelho e foram sucumbindo uma atrás da outra. Em 2017, decidiram retirar todas as tamareiras, incluindo as que não estavam doentes (as cinco tamareiras não estavam afetadas), vá se lá saber porquê... Lógica portuguesa no seu melhor.

Entrada do hospital em 2009:

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Entrada em 2024:
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A Tamareira (phoenix dactylifera), frequentemente vista como exótica importada com o turismo, na realidade, já existia no nosso território antes da nacionalidade, possivelmente trazida pelos fenícios. Na época romana, Plínio o Velho já falava da sua presença na costa da Hispânia e, durante o Al-Ândalus, adornava cidades como Sevilha e Córdova. Em Portugal, nessa mesma época, Al-Maqqarî destacou as palmeiras de Elvas no século XI que considerava como: "sítio famoso pelas suas águas e palmeiras altas". Por isso, é muito provável que tenha havido palmeiras nos jardins no sul do nosso território em época fenícia, romana e/ou muçulmana. Contudo, os portugueses não deram continuidade ao seu cultivo como em Espanha e, por conseguinte, tornou-se cada vez mais rara em Portugal (continental) até ao fim do século 17. A partir do século 18, era principalmente utilizado em jardins botânicos ou em jardins de ricos proprietários como símbolo de riqueza colonial (como a tamareira-das-canárias).

Palácio Burnay em meados do século 19:

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No fim do século XX, a tamareira saiu dos grandes jardins e começou a ser utilizada na via pública, principalmente em hotéis e avenidas ao longo de praias. No entanto, nunca conseguiu destronar a sua prima canária, omnipresente no nosso país desde os anos 50 até à primeira década do século XXI. Ainda existem exemplares, principalmente em Lisboa e no Algarve, mas na primeira muitos sucumbiram ao escaravelho que começou a atacá-las. (Já que já não há quase nenhuma palmeira-das-canárias na cidade atualmente).

A entrada do Colombo em 2014:
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A entrada atualmente, substituiram-nas por magnólias, choupos e plátanos (lógica portuguesa).

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Mas isso era no continente, no arquipélago da Madeira, a realidade era bem diferente, principalmente na ilha do Porto Santo. Tal como no sul de Portugal, as tamareiras foram as primeiras palmeiras (exóticas) cultivadas. Existem referências à sua existência na ilha principal que remontam ao século XVI, bem como pinturas e gravuras da ilha que as retratam.

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No Porto Santo, as tamareiras também foram as primeiras palmeiras cultivadas na ilha, provavelmente introduzidas com os primeiros povoadores, dado que o Porto Santo mantinha um contacto próximo com o Norte de África, mais especificamente com as antigas possessões portuguesas em Marrocos, de onde as primeiras plantas poderão ter vindo. As tamareiras foram as palmeiras mais comuns na ilha até ao início do século XX. De facto, em 1894, as tamareiras foram classificadas como subespontâneas na ilha, e os seus frutos, as tâmaras, faziam parte da dieta local até ao século XIX.

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Mais tarde, na década de 50, as tamareiras-das-canárias tornaram-se muito populares em todo o país como plantas ornamentais e substituíram as tamareiras como a espécie mais comum na ilha. A partir daí, as palmeiras perderam o seu propósito agrícola principal e passaram a ser maioritariamente ornamentais, à medida que a ilha se transformava num destino turístico. Os frutos das tamareiras-das-Canárias não são comestíveis, mas as suas folhas ainda são utilizadas hoje em dia na produção de chapéus, cestos ou malas. Atualmente, esta espécie encontra-se quase extincta no continente e na ilha da Madeira. No ano passado, apareceram os primeiros casos de palmeiras infetadas com o escaravelho no Porto Santo. Tal como no continente, não conseguiram controlar a praga e desde este verão, morreram centenas de exemplares de grande porte na ilha, o que infelizmente indica o mesmo desfeixo que no continente.

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No que diz respeito ao cultivo de plantas tropicais, Lisboa tem duas vantagens em relação a outros sítios à mesma latitude no Mediterrâneo:

1) as temperaturas médias mínimas e as mínimas absolutas no inverno são mais altas do que noutras zonas do Mediterrâneo por influência atlântica
2) o nível mais alto de humidade e precipitações, principalmente no outono e no inverno

Já vi palmeiras-imperiais e borboletas (Roystonea regia e dypsis lutescens) adultas ao ar livre em Lisboa e arredores. São plantas que normalmente cultivamos com mais facilidade no Algarve ou na costa andaluza.

Sim, o vale do Guadalquivir tem muitas semelhanças com o vale do Guadiana. Só escolhi Sevilha por ser igualmente uma cidade fluvial, por ter tido um grande protagonismo durante a Era dos descobrimentos e por ter as temperaturas invernais parecidas com Lisboa. Também escolhi Sevilha pelas suas temperaturas, mais frias no inverno e muito mais quentes no verão, e pelo menor nível de precipitação para provar que, mesmo apesar do maior frio invernal, das grandes secas e do calor tórrido, as plantas (mediterrânicas e subtropicais/tropicais) dão-se bem na cidade. Lisboa, a priori, tem uma vantagem dado o seu clima mais ameno e húmido, mas mesmo assim, consegue ter jardins menos cuidados e em mau estado comparado com os de Sevilha.

Se as nossas câmaras (não só de Lisboa) optassem por espécies (nativas e exóticas) que se adaptam bem ao clima mediterrânico subtropical (subtropical porque é muito provável que a média anual de Lisboa atinja os 18 graus no período 1991-2020), não teríamos árvores de folha caduca de climas temperados nas nossas ruas ou árvores rupícolas longe de pontos de água.
 
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@belem havia duas tamareiras e palmeiras das Canárias

Street view de 2014

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No street view de 2018 já não estavam lá.


Mapa dos termótipos (Rivas-Martínez 2008, 2011)
http://home.isa.utl.pt/~tmh/aboutme/Informacao_bioclimatologica.html
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Interessante mapa, mas existem formações vegetais termomediterrânicas no Alto Douro:


Certamente não será o mais comum.

Aqui é também descrito um andar termomediterrânico no Alto Douro (página 17):

Esta publicação é muito interessante, também porque descreve em grande detalhe a vegetação nativa de Portugal Continental.
 
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Uma certa semelhança com as paisagens das Ilhas Canárias (as mais áridas), ou mesmo Cabo Verde.
Sim, se compararmos com as ilhas das Canárias, a mais parecida seria Fuerteventura. Embora tenho um clima um pouco mais quente e muito mais árido que Porto Santo, a ilha oferece paisagens parecidas às do Porto Santo, principalmente ao aspeto que tinha no início do século passado.

Fuerteventura é conhecida pela suas paisagens áridas e impressionantes, moldadas pela sua origem vulcânica e clima árido (BWh). O clima de Fuerteventura é influenciado pelos ventos alísios e pela proximidade com o deserto do Saara. Na estação do aeroporto, as temperaturas são amenas ao longo do ano (temp. média de 21,3). No inverno, as temperaturas oscilam entre 15 e 21-22 graus e no verão, entre 21 e 27 (para o período 1991-2020).
Devido ao seu baixo relevo, as chuvas são escassas e concentradas principalmente no inverno, com uma média anual de apenas aproximadamente 90 mm. Os ventos fortes e secos são característicos, o que contribui para o clima árido e a formação de dunas. A vegetação é quase inexistente, existindo apenas plantas xerófilas rasteiras autóctones (tabaibal-cardonal) ou tamareiras (principalmente a Phoenix canariensis, indígena, e a Phoenix dactylifera em menor medida).

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O Porto Santo tem um relevo e uma paisagem parecida, mas tem um maior valor de precipitação que ronda os 300 mm por ano, o que faz com que a ilha tenha um clima semiárido (BSh). Quanto às temperaturas, essas são menos elevadas do que Fuerteventura e até mesmo do que o sul da Madeira. No entanto, só temos os datos do período de (1981-2010) da estação do aeroporto, esta no interior da ilha e não na zona mais quente. À beira-mar é provável que as temperaturas oscilem entre 14 e 19-20 no inverno e 20 e 26 no verão.

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A vegetação natural da ilha desapareceu, só restam alguns núcleos isolados nos picos da ilha. Até ao princípio do século passado, a paisagem da ilha estava desprovida de vegetação, acelerando assim a erosão dos solos e o processo de desertificação. Só havia arbustos xerófilas como os tamariscos (tamarix gallica) ou as tabaibeiras (opuntia ficus-indica) e plantas como a tamareira (phoenix dactylifera). Como disse acima, até ao século 19, a tâmara fazia parte da alimentação dos portosantenses e em 1894, era considerada como subespontânea na ilha.

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Nos anos 40-50, introduziram a palmeira-das-canárias na ilha que acabou por destronar e substituir a tamareira, sendo utilizado de forma abundante nos jardins e arruamentos da ilha. Dado o clima muito semelhante ao da sua terra, as palmeiras-das-canárias adaptaram-se muito bem e até começaram a colonizar os terrenos abandonados e as ribeiras ou escarpas.
 
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Infelizmente, essas palmeiras encontram-se ameaçadas pelo escaravelho vermelho desde este verão, e dada a famosa eficiência das autoridades portuguesas em controlar esta praga, podemos esperar uma extinção desta espécie nos próximos anos, como aconteceu na Madeira ou no continente.

A partir dos anos 30, para combater a desertificação, iniciativas de reflorestamento introduziram espécies como pinheiros-do-alepo (pinus halepensis) e ciprestes-de-monterrey (cupressus macrocarpa), nos picos da ilha. Atualmente, essas duas espécies encontram-se por toda a ilha e também são utilizadas como ornamentais com outras espécies mediterrânicas (oliveiras, pinheiros-mansos, alfarrobeiras) e espécies indígenas como o dragoeiro. Esta "mediterranização" do património vegetal da ilha acaba por afastar o Porto Santo de Fuerteventura (e das outras ilhas Canárias). De facto, nas Canárias (e em Espanha no geral) não houve reflorestamento em massas com espécies exóticas ao contrário da Madeira e de Portugal. A vegetação floresta é quase sempre autóctone e a vegetação ornamental é muito mais subtropical e tropical. O Porto Santo tem agora um aspeto mais mediterrânico, mais próximo do que se pode ver atualmente na costa mediterrânica espanhola do que com as Canárias.

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A capital da ilha até podia recordar as aldeias de Fuerteventura se não fossem pela arquitetura descaracterizada (sim, os espanhóis conservam e cuidam da arquitetura tradicional ao contrário de nós) e pela quantidade de pinheiros e oliveiras mediterrânicas.

Vila Baleira com oliveiras, pinheiros-do-alepo, pinheiros-mansos, ciprestes-de-monterrey:

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Aldeia em Fuerteventura, com vegetação principalmente subtropical e tropical (piteiras, casuarinas, figueiras-da-india, palmeiras-das-Canárias, figueiras tropicais, etc.)
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Por isso, antigamente Porto Santo tinha mais semelhanças com as Canárias ou Cabo-Verde do que atualmente. Com o reflorestamento e a introdução de espécies exóticas mediterrânicas, os portugueses criaram uma nova paisagem, outra vez, mais "fria" do que o próprio clima. Parece que é uma característica bem portuguesa: arrefecer a paisagem com espécies que se encontram em climas mais a norte.
 
Ver anexo 17155
Ver anexo 17158
Ver anexo 17154
Ver anexo 17157
Ver anexo 17153

Infelizmente, essas palmeiras encontram-se ameaçadas pelo escaravelho vermelho desde este verão, e dada a famosa eficiência das autoridades portuguesas em controlar esta praga, podemos esperar uma extinção desta espécie nos próximos anos, como aconteceu na Madeira ou no continente.

A partir dos anos 30, para combater a desertificação, iniciativas de reflorestamento introduziram espécies como pinheiros-do-alepo (pinus halepensis) e ciprestes-de-monterrey (cupressus macrocarpa), nos picos da ilha. Atualmente, essas duas espécies encontram-se por toda a ilha e também são utilizadas como ornamentais com outras espécies mediterrânicas (oliveiras, pinheiros-mansos, alfarrobeiras) e espécies indígenas como o dragoeiro. Esta "mediterranização" do património vegetal da ilha acaba por afastar o Porto Santo de Fuerteventura (e das outras ilhas Canárias). De facto, nas Canárias (e em Espanha no geral) não houve reflorestamento em massas com espécies exóticas ao contrário da Madeira e de Portugal. A vegetação floresta é quase sempre autóctone e a vegetação ornamental é muito mais subtropical e tropical. O Porto Santo tem agora um aspeto mais mediterrânico, mais próximo do que se pode ver atualmente na costa mediterrânica espanhola do que com as Canárias.

Ver anexo 17162
Ver anexo 17159
Ver anexo 17160

A capital da ilha até podia recordar as aldeias de Fuerteventura se não fossem pela arquitetura descaracterizada (sim, os espanhóis conservam e cuidam da arquitetura tradicional ao contrário de nós) e pela quantidade de pinheiros e oliveiras mediterrânicas.

Vila Baleira com oliveiras, pinheiros-do-alepo, pinheiros-mansos, ciprestes-de-monterrey:

Ver anexo 17161

Aldeia em Fuerteventura, com vegetação principalmente subtropical e tropical (piteiras, casuarinas, figueiras-da-india, palmeiras-das-Canárias, figueiras tropicais, etc.)
Ver anexo 17163

Por isso, antigamente Porto Santo tinha mais semelhanças com as Canárias ou Cabo-Verde do que atualmente. Com o reflorestamento e a introdução de espécies exóticas mediterrânicas, os portugueses criaram uma nova paisagem, outra vez, mais "fria" do que o próprio clima. Parece que é uma característica bem portuguesa: arrefecer a paisagem com espécies que se encontram em climas mais a norte.
Uma das poucas exceções deve ser um coqueiro que existe em Porto Santo, que aparentemente é famoso por ser o coqueiro que cresce mais longe do Equador do mundo.