Na entrada do Hospital Egas Moniz, lembro-me que existia pelo menos uma tamareira de grandes dimensões.
Junto à praia da Parede e na Avenida da Republica em Carcavelos, também existem algumas.
São realmente muito belas, ainda que menos exuberantes que as palmeiras das Canárias, na minha opinião.
Mas o contraste visual, justifica plenamente o seu uso, além dos saborosos frutos, claro.
Eu acho que a nível de tropicais, Lisboa eleva a parada muito alto: não devem haver muitos sítios com papaeiras e mangueiras, a crescer e a frutificar ao ar livre, à mesma latitude (sensivelmente).
Talvez os Açores...
Até poderá haver algum sítio mais, mas não deverá ser comum.
De todas as formas, tais fruteiras exigem água, um local virado a Sul, bem drenado e protegido do vento de Norte.
Tendencionalmente, o mesmo se passa com outras árvores tropicais, que cresçam em zonas mais frias do que as de origem.
Em Portugal, o mais próximo que temos de Sevilha, é o Vale do Guadiana (lembro-me que Sanlucar de Guadiana, a 500 metros ao lado de Alcoutim, tinha até uma média anual ligeiramente mais alta que Sevilha, para o mesmo período de tempo (mas a série que vi, não chegava aos 30 anos)).
O regime de temperaturas era muito parecido, sendo a diferença maior, a precipitação (era e é mais seco que Sevilha).
A influência Csa de Koppen-geiger (verões quentes e secos, somados a invernos relativamente amenos e húmidos), é grosso modo, muito semelhante à Termomediterranica de Rivas-Martinez e em Portugal Continental deverá começar a Sul do sistema Sintra/Montejunto/Estrela, com a exceção do Vale do Douro, que chega perfeitamente a níveis termomediterrânicos em vários locais.
Interessante a comparação feita pelo Wolfmad.
Realmente dá para refletir sobre erros feitos no passado e algo necessita de mudar, a nível de planeamento de espaços verdes, em zonas urbanas portuguesas.
Penso que em vários sítios pode-se utilizar flora nativa, desde que seja rústica resistente e esteticamente agradável, mas também deverá sobrar muito espaço para exóticas, desde que sirvam o propósito de forma igualmente eficaz.
Sim, havia um conjunto de tamareiras-das-canárias (phoenix canariensis) com 5 tamareiras (phoenix dactylifera) centenárias. Em 2010, as tamareiras-das-canárias foram afetadas pelo escaravelho e foram sucumbindo uma atrás da outra. Em 2017, decidiram retirar todas as tamareiras, incluindo as que não estavam doentes (as cinco tamareiras não estavam afetadas), vá se lá saber porquê... Lógica portuguesa no seu melhor.
Entrada do hospital em 2009:
Entrada em 2024:
A Tamareira (phoenix dactylifera), frequentemente vista como exótica importada com o turismo, na realidade, já existia no nosso território antes da nacionalidade, possivelmente trazida pelos fenícios. Na época romana, Plínio o Velho já falava da sua presença na costa da Hispânia e, durante o Al-Ândalus, adornava cidades como Sevilha e Córdova. Em Portugal, nessa mesma época, Al-Maqqarî destacou as palmeiras de Elvas no século XI que considerava como: "sítio famoso pelas suas águas e palmeiras altas". Por isso, é muito provável que tenha havido palmeiras nos jardins no sul do nosso território em época fenícia, romana e/ou muçulmana. Contudo, os portugueses não deram continuidade ao seu cultivo como em Espanha e, por conseguinte, tornou-se cada vez mais rara em Portugal (continental) até ao fim do século 17. A partir do século 18, era principalmente utilizado em jardins botânicos ou em jardins de ricos proprietários como símbolo de riqueza colonial (como a tamareira-das-canárias).
Palácio Burnay em meados do século 19:
No fim do século XX, a tamareira saiu dos grandes jardins e começou a ser utilizada na via pública, principalmente em hotéis e avenidas ao longo de praias. No entanto, nunca conseguiu destronar a sua prima canária, omnipresente no nosso país desde os anos 50 até à primeira década do século XXI. Ainda existem exemplares, principalmente em Lisboa e no Algarve, mas na primeira muitos sucumbiram ao escaravelho que começou a atacá-las. (Já que já não há quase nenhuma palmeira-das-canárias na cidade atualmente).
A entrada do Colombo em 2014:
A entrada atualmente, substituiram-nas por magnólias, choupos e plátanos (lógica portuguesa).
Mas isso era no continente, no arquipélago da Madeira, a realidade era bem diferente, principalmente na ilha do Porto Santo. Tal como no sul de Portugal, as tamareiras foram as primeiras palmeiras (exóticas) cultivadas. Existem referências à sua existência na ilha principal que remontam ao século XVI, bem como pinturas e gravuras da ilha que as retratam.
No Porto Santo, as tamareiras também foram as primeiras palmeiras cultivadas na ilha, provavelmente introduzidas com os primeiros povoadores, dado que o Porto Santo mantinha um contacto próximo com o Norte de África, mais especificamente com as antigas possessões portuguesas em Marrocos, de onde as primeiras plantas poderão ter vindo. As tamareiras foram as palmeiras mais comuns na ilha até ao início do século XX. De facto, em 1894, as tamareiras foram classificadas como subespontâneas na ilha, e os seus frutos, as tâmaras, faziam parte da dieta local até ao século XIX.
Mais tarde, na década de 50, as tamareiras-das-canárias tornaram-se muito populares em todo o país como plantas ornamentais e substituíram as tamareiras como a espécie mais comum na ilha. A partir daí, as palmeiras perderam o seu propósito agrícola principal e passaram a ser maioritariamente ornamentais, à medida que a ilha se transformava num destino turístico. Os frutos das tamareiras-das-Canárias não são comestíveis, mas as suas folhas ainda são utilizadas hoje em dia na produção de chapéus, cestos ou malas. Atualmente, esta espécie encontra-se quase extincta no continente e na ilha da Madeira. No ano passado, apareceram os primeiros casos de palmeiras infetadas com o escaravelho no Porto Santo. Tal como no continente, não conseguiram controlar a praga e desde este verão, morreram centenas de exemplares de grande porte na ilha, o que infelizmente indica o mesmo desfeixo que no continente.
No que diz respeito ao cultivo de plantas tropicais, Lisboa tem duas vantagens em relação a outros sítios à mesma latitude no Mediterrâneo:
1) as temperaturas médias mínimas e as mínimas absolutas no inverno são mais altas do que noutras zonas do Mediterrâneo por influência atlântica
2) o nível mais alto de humidade e precipitações, principalmente no outono e no inverno
Já vi palmeiras-imperiais e borboletas (Roystonea regia e dypsis lutescens) adultas ao ar livre em Lisboa e arredores. São plantas que normalmente cultivamos com mais facilidade no Algarve ou na costa andaluza.
Sim, o vale do Guadalquivir tem muitas semelhanças com o vale do Guadiana. Só escolhi Sevilha por ser igualmente uma cidade fluvial, por ter tido um grande protagonismo durante a Era dos descobrimentos e por ter as temperaturas invernais parecidas com Lisboa. Também escolhi Sevilha pelas suas temperaturas, mais frias no inverno e muito mais quentes no verão, e pelo menor nível de precipitação para provar que, mesmo apesar do maior frio invernal, das grandes secas e do calor tórrido, as plantas (mediterrânicas e subtropicais/tropicais) dão-se bem na cidade. Lisboa, a priori, tem uma vantagem dado o seu clima mais ameno e húmido, mas mesmo assim, consegue ter jardins menos cuidados e em mau estado comparado com os de Sevilha.
Se as nossas câmaras (não só de Lisboa) optassem por espécies (nativas e exóticas) que se adaptam bem ao clima mediterrânico subtropical (subtropical porque é muito provável que a média anual de Lisboa atinja os 18 graus no período 1991-2020), não teríamos árvores de folha caduca de climas temperados nas nossas ruas ou árvores rupícolas longe de pontos de água.