GARÇAS ESTÃO A TROCAR ALENTEJO E ALGARVE POR TERRITÓRIOS MAIS A NORTE
A maioria das espécies de garças que se reproduzem em Portugal estão a abandonar as zonas húmidas no Alentejo e no Algarve e a deslocar as suas áreas de nidificação mais para Norte, conclui um projecto de monitorização às aves aquáticas coloniais cujos resultados foram divulgados na feira da Observanatura, no início de Outubro.
Entre Março e Agosto de 2013 e de 2014, equipas de técnicos e vigilantes de natureza do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e voluntários percorreram o país, de Norte a Sul, para saber qual a abundância e distribuição destas aves. Os dados dizem respeito ao abetouro, goraz, papa-ratos, garça-boieira, garça-branca-pequena, garça-real, garça-vermelha, colhereiro e íbis-preto. A estas, juntaram-se ainda dados recolhidos sobre o corvo-marinho-de-faces-brancas, que só há três anos se estabeleceu como nidificante em Portugal.
A perda dos recursos alimentares pode estar na origem da mudança, aponta o relatório do projecto de monitorização. O documento explica a situação com o “acentuar do regime torrencial das ribeiras no Alentejo e a introdução de espécies piscícolas exóticas de maiores dimensões, para a pesca desportiva em açudes e barragens”.
As espécies exóticas alimentam-se dos peixes nativos que são mais pequenos, como o saramugo, levando à diminuição do alimento disponível. “Esta aparenta ser uma das grandes razões para o desaparecimento de muitas colónias de garças no Alentejo, nomeadamente garça-cinzenta, garça-vermelha e garça-branca-pequena.”
http://www.wilder.pt/historias/garcas-estao-a-trocar-alentejo-e-algarve-por-territorios-mais-a-norte
Bem eu vou explicar quais são os dois problemas da garças.
1) Motores de rega. Esgotam rapidamente a água das ribeiras nos meses de Primavera, quando chega o início de Maio muitas estão secas. Uma das ribeiras que tem menos motores, a do Vascão, é talvez a única que tem água todo o ano. Não é por acaso que é a última esperança para o saramugo.
2) Ausência de galerias ripíciolas. A maioria das ribeiras tem as margens sem árvores e arbustos, e estão invadidas por canaviais, logo as aves não têm locais escondidos para fazerem os ninhos.