Seguimento - Incêndios 2022

Em Portugal, se querem fazer do eucalipto o vilão das florestas, apontem aos alvos certos, a saber:

- As áreas de eucaliptais são muito pobres em diversidades quando comparadas com ocupações florestais autóctones.
- O eucalipto apresenta por vezes capacidade invasora significativa, principalmente após os fogos, ainda que inferior às acácias e háqueas.
- Os eucaliptos possuem propriedades de alelopatia que podem atrasar ou impedir o desenvolvimento de outras espécies no seu sub-coberto.
- Más práticas de preparação de terreno para eucaliptais, infelizmente muito comuns em Portugal levam a erosão e perda de valor do solo significativas
- O eucalipto tem a capacidade de usar a água de forma muito mais eficiente do que as nossas espécies autóctones podendo levar a uma diminuição do valor de água que iria recarregar os aquiferos, daí ser muito importante não plantar eucalitpos em áreas próximas de linhas de água.
- O valor paisagístico do eucalipto é nulo e com zero interesse turístico ao contrário de outras ocupações florestais.

Em relação aos fogos:

- O potencial de gerar projeções de material incandescente e consequentes focos de incendio secundários é muito comum nos eucaliptais. Sendo este o principal "pecado" do eucalipto em relação aos fogos.

Penso que isto é mais do que suficiente para perceber que o eucalipto, como espécie estranha ao território, nunca devia ter sido utilizado intensivamente, com fins industriais, pois nada traz de benéfico a um ecossistema, à biodiversidade, e numa palavra à conservação da Natureza. Porque esta conservação é a única coisa que terá valor verdadeiro no futuro a médio e longo prazo. Tudo o resto é benefício de alguns destas gerações e não das futuras.
 
Já que temos por aqui alguns especialistas gostaria então de saber qual seria então a solução para os incêndios, pois se tudo se prende com matos e arbustos, a mim parece me que a ideia de limpar florestas de norte a sul do país é um pouco irrealista impossível de colocar em prática
 
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De facto sou um leigo na matéria e que tem tentado perceber mais do assunto depois das catástofes de 2017, tendo presenciado parte do que aconteceu em Outubro. Tenho lido alguns estudos e relatórios desde então e seguido a temática com mais alguma atenção, pelo que as opiniões que tenho dado vão no seguimento do que eu tenho lido e visto ao longo dos anos. Quanto aos lobbies é uma opinião e não a retiro porque me parece algo bastante à vista. Mas valha a verdade, era a isto que me queria referir, à forma de propagação do fogo, que é algo que me é mais perceptível porque de queimas percebo pouco. Ainda assim, parece-me a minha opinião sobre o assunto não é assim tão diferente da tua. De qualquer das formas as minhas desculpas pelas falhas factuais demonstradas.

Nada a desculpar! ;)

Mas faço uma pergunta: se a gestão ou falta dela do terreno é o mais importante, como é que se explica que faixas razoavelmente largas de terreno limpo/desabastado não tenham sido suficientes para travar a propagação dos incêndios, quer neste caso da Serra da Estrela como por exemplo em Leiria no mês passado?

Esse é um problema que o @AJB talvez possa explicar melhor, pois penso que está mais ligado ao estudo do fogo do que eu, que embora seja técnico florestal, nunca trabalhei diretamente com a problemática dos fogos. O facto de as faixas de gestão de combustível (FGC) terem falhado e falharem frequentemente em Portugal, penso que tem a ver com o facto de ainda não se conseguir aproveitar vantagem que estas conferem. A lógica das FGC consiste em criar descontinuidades no combustível de forma a conceder oportunidades de parar o fogo de forma mais fácil por meios humanos ou promover a sua autoextinção. A meu ver o não aproveitamento da FGC a par da dificuldade crónica em fazer bons rescaldos para evitar reacendimentos são, os principais problemas no combate aos fogos em Portugal. Mas volto a dizer que não tenho experiência nesta temática e é apenas a minha opinião.
 
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Penso que isto é mais do que suficiente para perceber que o eucalipto, como espécie estranha ao território, nunca devia ter sido utilizado intensivamente, com fins industriais, pois nada traz de benéfico a um ecossistema, à biodiversidade, e numa palavra à conservação da Natureza. Porque esta conservação é a única coisa que terá valor verdadeiro no futuro a médio e longo prazo. Tudo o resto é benefício de alguns destas gerações e não das futuras.

Apesar de todos os malefícios que elenquei acima, há ocupações do solo muito piores em termos ambientais do que um eucaliptal, por exemplo um pomar ou olival explorado de forma intensiva tem muito mais impactos ambientais do que um eucaliptal de igual dimensão, com muito mais aplicação de produtos fitofarmacêuticos lesivos para o ambiente, muito mais mobilização e consequente erosão/perda de solo e consegue ser ainda mais pobre em biodiversidade do que um eucaliptal. Tem que se por as coisas em perspetiva, o eucalipto não é a pior coisa do mundo. Há espaço para ele em Portugal mas com regras e sem atropelos à legislação como infelizmente ainda se vê. Eucaliptais bem geridos inseridos numa paisagem em mosaico com outras ocupações culturais penso não ser um problema, há espaço para tudo! O problema foi terem deixado plantar em sítios onde nunca deviam ter sido plantados, sem respeito por linhas de água e sacrificando floresta autóctone, isto entre outras tropelias.
 
As linhas de alta tensão da REN têm ao longo da sua extensão corredores sem árvores, bem visíveis nas imagens de satélite.
No recente incêndio das Caldas, o fogo terá atravessado um desses corredores. Será que se a vegetação de baixo porte estivesse suficientemente desbastada nesse corredor, o fogo ainda teria passado. A quem cabe a gestão destes corredores?
 
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Que brutalidade de catástrofe ambiental :disgust: Sendo a maior parte dos hectares em pleno PNSE ! :unsure: Em plena concordância, o ICNF avança com 25.105ha.

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Já que temos por aqui alguns especialistas gostaria então de saber qual seria então a solução para os incêndios, pois se tudo se prende com matos e arbustos, a mim parece me que a ideia de limpar florestas de norte a sul do país é um pouco irrealista impossível de colocar em prática
Não há solução para os incêndios. São uma inevitabilidade em Portugal.

Mas há muitas coisas que se pode fazer para tirar o potencial ao surgimento de fogos catastróficos tais como:
- Cadastro predial atualizado de todas as propriedades a nível nacional, há muitas áreas ao abandono que ninguém sabe quem é o dono, isto não pode continuar.
- Arranjar mecanismos ou formas de fixar populações ou atividades que promovam a utilização dos espaços rurais, sejam a pastorícia, apicultura, apanha de cogumelos, caça etc., atividades que possam permitir que haja manutenção de caminhos, controlos pontuais de matos, criando zonas de descontinuidade.
- Manutenção de FGC sob linhas elétricas e ao longo de estradas principais, de forma a promover a autoextinção e conceder locais de combate mais facilitado
- Valores justos pelos produtos agrícolas e florestais junto dos agricultores e proprietários de forma a incentivar a permanência da sua atividade e evitar o abandono.
- Apostar na formação de um corpo de bombeiros exclusivamente florestais/rurais, bem equipados e treinados.
- etc., etc. etc. Muito mais há a dizer e principalmente fazer para minorar o problema, deixo em aberto para quem quiser propor mais medidas a implementar.
 
Que brutalidade de catástrofe ambiental :disgust: Sendo a maior parte dos hectares em pleno PNSE ! :unsure: Em plena concordância, o ICNF avança com 25.105ha.

O grau de destruição deve ser bastante variável. Zonas onde o fogo passou mas não comprometeu a sobrevivência das árvores maiores, zonas com coberto vegetal não arbóreo ou com raras árvores, como nas altitudes mais elevadas e áreas predominantemente rochosas, estas zonas recuperarão por si mesmas num prazo relativamente curto, talvez apenas dois a três anos, pelo que tenho oportunidade de observar em outros locais do país que tenho visitado.
 
Que brutalidade de catástrofe ambiental :disgust: Sendo a maior parte dos hectares em pleno PNSE ! :unsure: Em plena concordância, o ICNF avança com 25.105ha.

Há que recordar as palavras de políticos em 2017, o investimento maciço que foi feito desde aí e apurar as responsabilidades...pera, calma, estava a sonhar...estamos em PT!...
 

Ao observar as imagens de satélite vê se na segunda parte do fogo desde o reacendimento, que zonas com muitas folhosas como o caso de Famalicão da da serra,aldeia do Souto e menos mas com alguma relevância pois não se encontra num vale o Sarzedo a área permanece verde

Observa se um vale a norte de valhelhas e oeste de Famalicão onde há uma mancha verde de muitos hectares no entanto desconheço a área pois encontra se numa zona pouco acessível, não sei se alguém por aqui conhece
 
O problema foi terem deixado plantar em sítios onde nunca deviam ter sido plantados, sem respeito por linhas de água e sacrificando floresta autóctone

As zonas de "mato" estão incluídas ou excluídas dos sítios onde não se devia plantar? Porque há matos que sustentam biodiversidade e são coberto essencial para a manutenção do solo e da infiltração, que deixa de existir ao fazer uma plantação intensiva (seja de eucaliptos, seja do que for).
 
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