Tromba-d'água e granizo destroem hortas na Vilariça
(Título do jornal)
"O São Pedro anda de mal connosco ou nós com ele", desabafava António Lopes, ao fim da tarde de ontem, enquanto tentava desafogar as suas culturas, em Sampaio, Vila Flor. Durante mais de duas horas choveu torrencialmente e caiu algum granizo naquela zona do vale da Vilariça (concelhos de Vila Flor, Alfândega da Fé e Torre de Moncorvo). Vinhas e hortas ficaram completamente alagadas. Os agricultores temem perder as colheitas que lhe garantem sustento.
De galochas, calças e casaco impermeáveis, António, 60 anos, lutava em vão. "É impossível. Esta zona da Ribeira Velha e do Vale do Mouro fazem uma poça e não há hipótese de tirar a água daqui", justificava. Feijão, batata, ervilha, pepino, alface, fava, tomate, repolho, entre outras culturas, correm o risco de apodrecer. De "melar", como dizem em Sampaio os agricultores, que já começam a deitar contas à vida. "Os anos bissextos são lixados", lastimava-se Carlos Abade. Saíra da sua horta às 15 horas, quando começou a chover, mal sabia que lá voltaria dali a três horas para conferir um cenário que o deixou de rastos. Sem medo de se enganar, Carlos fala já num "prejuízo enorme", pois a maior parte das pessoas que vivem nas aldeias da Vilariça têm hortas. "É daqui que se tira muito do sustento. Plantamos, colhemos e depois vendemos nas feiras", sublinhava.
Domingos Pires, 72 anos, lembra-se de outras trombas de água semelhantes, a última "há mais de 20 anos". E dessa vez "não se safou quase nada", pelo que teme que desta vez aconteça o mesmo. Até porque a água é barrenta e o mais certo é "ir tudo pelo ar". "Tenho cem sacos de batatas semeadas e vão aí apodrecer todas", perspectiva. António Lopes calcula que "a água poderá estar ali empoçada durante uma semana, ou mais".
Domingos não poupa nas lamentações "Nunca nos deram nada". Salienta que por essa mesa razão as pessoas "já nem se queixam". "Se fossem os alentejanos queixavam-se logo e pediam compensações, nós aqui nem para isso servimos", desabafava, apoiado na enxada com que tentava desviar a água da horta. Os agricultores calculam ainda que as barragens de regadio que existem a montante daquela zona "seguraram muita água, caso contrário agora é que ia tudo por aí abaixo".
Eduardo Pinto
Jornal de Notícias